Empatia
- bhersing
- 31 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 3 de set. de 2020

O dia amanhece cinza, o silêncio de um domingo de chuva, em meio ao distanciamento e afastamento social, nas redes posts e comentários sobre a recente notícia: Gestante assassinada. Dor, crime e tragédia, em meio ao processo da gestação de uma vida.
Quando digo que o luto, o aborto, a perda, a depressão pós-parto e a romantização da gestação existe, ainda recebo olhares tortos, ainda mais por que: Não sou mãe.
Não gestei, não pari, e logo...bem não estou apta a falar sobre. Mas sobre dor e luto sim, pois independente de ser mulher, mãe candidata a adoção, sou humana, e precisamos como seres humanos acolher a dor alheia. Não estou aqui de maneira alguma defendendo um crime hediondo, estou humildemente propondo a reflexão do por quê ele chegou a ocorrer. Penso o quanto essa pessoa sofreu, e chegou ao fundo do poço a ponto de não ver mais o que é certo, errado ou insano.
Precisamos parar com o "é mimimi", "logo passa", "assim que tu engravidar novamente", "Deus quis assim", "tu ainda tem tempo", todas essas frases não curam, e muito menos acalentam, há que se encarar o luto de frente. Há anos vejo estudos sobre o luto não reconhecido na maternidade: Tornar-se mãe é um processo intenso, uma nova mulher, fêmea quase titânica emerge das profundezas do seu âmago para torna-se a mãe de sua cria. Há um luto de quem ela foi, e muitas vezes a depressão pós-parto nem é percebida, queremos logo ver o bebê, tirar fotos de todos os momentos, e a mulher fica com uma nova realidade: seu corpo mudou, sua vida mudou, pelo menos pelos próximos 18 anos. O puerpério pode ser solitário, desafiador e doloroso, se a mãe não tiver sua rede de apoio (aqui não se trata apenas do pai e avós, mas de todas a pessoas que fazem parte da teia de relações). Como nossa sociedade ainda tem traços patriarcais muito profundos, acabamos por ver a mulher no puerpério como frágil e quiçá convalescente, e logo passará. Mas e se não passa? E se o luto persiste?
Há que ter o acolhimento sim, a cada ano o número de mulheres com depressão pós-parto cresce exponencialmente. Do outro lado da balança temos as mulheres em luto por abortos espontâneos e tentativas frustradas de concepção. Quem as acolhe? Quem olha para elas? No caso dessa mulher, quanto sofreu ao ponto de chegar ao seu lado mais sombrio e trevoso da alma? Quem lhe estendeu a mão? Volto a dizer: Não estou defendendo, não compactuo com a brutalidade do ato. Mas questiono a falta de sororidade que essa mulher viveu esses meses todos, a ponto de ver na amiga um meio para um fim. Quando leio sobre crimes brutais, tenho um profundo pesar pela vítima, mas nunca deixo de pensar no caminho que levou uma pessoa tornar-se um agressor.
Na próxima vez que passar por uma mulher que perdeu um filho: acolha. Quando encontrar um mãe tentante: seja gentil, não pergunte quando e por que a demora em ela ser mãe. Quando visitar uma amiga no puerpério: dê uma mão na organização da casa, segure o bebê enquanto ela toma um banho tranquilo. Sigo aqui, no domingo chuvoso, em prece pelas mães em puerpério, pelas mulheres tentantes, pelas mães candidatas a adoção, pela família da vítima, por essa filha que tão cedo perdeu sua mãe de forma tão bruta, pelas mulheres em cárcere longe dos filhos e pela vida. Se tivéssemos (como sociedade) sido mais gentis e amorosos com a dor e o luto dessa mulher meses atrás, ela talvez não se tornasse uma criminosa, e teríamos preservado uma vida valiosa, e mãe e filha estariam bem e juntas.
Que possamos chegar ao momento social onde a dor, o luto e doença mental e emocional sejam vistos, acolhidos e curados, sem produzir mais agressões e violência. Todas as vidas importam. Seja empatia, não julgamento. A empatia envolve o exercício afetivo e cognitivo de buscar interagir percebendo a situação sendo vivida por outra pessoa, além da própria situação ou julgamentos prévios.
Se você conhece alguém que está em sofrimento, antes de julgar as ações dessa pessoa, acolha-a busque ou ofereça ajuda.
Se você está em sofrimento, não se puna, busque ajuda!
O primeiro passo para a cura é acolher-se e ser acolhido!💕
Por Luciane Benites

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